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Morte súbita em jovens e os exames para evitar mortes na prática esportiva
Cardiologista Raphael Boesche Guimarães explica principais causas do mal súbito e destaca a importância da avaliação individualizada antes da prática esportiva
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12/06/2025 11:05
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O trágico episódio envolvendo João Gabriel Hofstatter De Lamare, jovem atleta de apenas 20 anos que faleceu após sofrer um mal súbito durante uma meia-maratona em Porto Alegre, reacendeu o alerta para uma realidade rara, mas devastadora: a morte súbita em atletas. João faleceu no dia em que completava 20 anos, deixando familiares, amigos e a comunidade esportiva profundamente abalados.
A morte súbita é caracterizada pela perda inesperada das funções cardíacas, ocorrendo geralmente poucos minutos após o início dos sintomas. Em muitos casos, afeta pessoas aparentemente saudáveis, inclusive atletas de alto rendimento. Apesar de rara, seu impacto é imenso por acometer jovens em pleno vigor físico e em contextos de desempenho extremo.
Causas mais comuns por faixa etária
De acordo com o cardiologista Raphael Boesche Guimarães, membro efetivo da Sociedade Brasileira de Cardiologia, as causas variam conforme a idade do atleta:
Em atletas com até 35 anos:
A principal suspeita nestes casos é a cardiomiopatia hipertrófica (CMH), uma condição genética em que o músculo cardíaco se torna espessado de forma assimétrica, podendo obstruir a saída de sangue do coração e provocar arritmias fatais, especialmente durante o esforço físico. Muitas vezes, é silenciosa e só se manifesta em eventos graves como a morte súbita.
Outras possíveis causas nessa faixa etária incluem:
- Anomalias congênitas das artérias coronárias
- Miocardite (inflamação do músculo cardíaco, geralmente causada por vírus)
- Doenças elétricas hereditárias, como a síndrome do QT longo e a síndrome de Wolff-Parkinson-White
Em atletas acima de 35 anos:
As causas predominantes são relacionadas ao acúmulo de gordura nas artérias do coração — a chamada doença arterial coronariana — com risco aumentado de infarto agudo do miocárdio, especialmente durante exercícios intensos.
Avaliação pré-participação esportiva: o que deve ser feito?
Nem sempre os exames clínicos de rotina são suficientes para identificar doenças silenciosas e potencialmente fatais. Por isso, Guimarães defende a avaliação médica individualizada antes da prática esportiva, principalmente para atletas de alta performance.
Segundo ele, essa avaliação deve considerar:
- Histórico familiar, com foco em doenças cardíacas precoces ou morte súbita
- Características do esporte praticado, como intensidade e frequência
- Eletrocardiograma de repouso
- Em alguns casos, também ecocardiograma e teste ergométrico
“As diretrizes internacionais, cada vez mais seguidas no Brasil, sugerem uma abordagem estratificada, ou seja, com exames complementares de acordo com os riscos identificados na anamnese”, explica o cardiologista.
O que muda com o diagnóstico precoce
A detecção de condições como a cardiomiopatia hipertrófica pode ser determinante. A partir do diagnóstico, é possível implementar medidas de segurança como:
- Monitoramento cardíaco constante
- Ajustes nos treinos
- Uso de medicações específicas
- Implantação de desfibriladores automáticos implantáveis em casos mais graves
“Tudo isso pode salvar vidas e até permitir que o atleta continue competindo, desde que com o devido acompanhamento”, destaca Guimarães.
Prevenção salva vidas
Embora rara, a morte súbita em jovens atletas exige atenção redobrada da medicina esportiva. A cardiomiopatia hipertrófica é, de longe, a principal responsável por esses casos em menores de 35 anos, mas não é a única vilã. O episódio que vitimou João Gabriel serve como um duro lembrete da necessidade de exames preventivos, cuidados contínuos e, acima de tudo, respeito à individualidade de cada coração.
“Prevenir é, sobretudo, reconhecer que cada coração tem uma história — e merece ser ouvido antes da linha de largada”, conclui o médico.