
Cruzeiro, meu eterno namorado
Depois da vitória contra o Guarany, em 1927, o Palestra/Cruzeiro voltou a jogar no Dia dos Namorados em outras 10 oportunidades
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Belo Horizonte amanheceu gelada. O sol, ainda sem forças para romper a neblina que cobria ruas, sobrados, serras e os apitos das pequenas fábricas do Bairro Barro Preto. Esses estavam mudos. Não ousaram cortar o silêncio para chamar os operários e imigrantes italianos para o trabalho. Era domingo, 12 de junho de 1927.
Não era um domingo qualquer, mas, sim, a véspera do Dia de Santo Antônio, o santo casamenteiro, para quem as orações dos apaixonados seriam direcionadas, a fim de uma intervenção divina para uma desejada união “até que a morte vos separem”.
Era também dia de encontrar com o maior amor daquele povo trabalhador. Tinha jogo do Palestra Italia pelo Campeonato da Cidade. Então, o jeito foi acordar cedo.
Dividir o tempo entre a missa na capela de Santo Antônio, o eio no parque, a macarronada na casa da nonna e ainda torcer para o Periquito, como o Palestra era carinhosamente chamado por conta de sua camisa verde.
Findado o almoço, o povo começou a encher as ruas, em direção ao velho estadinho e suas modestas arquibancadas de madeira. Todos estavam eufóricos. Peleja marcada para as 15h. Ninguém queria chegar atrasado. Ainda mais com o Palestra vindo de um resultado maiúsculo na semana anterior, quando venceu o Sete de Setembro por incríveis 9 a 1.
Para os palestrinos, o amor estava no ar da capital mineira! Casais de todas as idades perfilados. Alguns com bandeirinhas verdes, vermelhas e brancas nas mãos. Outros, aproveitando o apinhar de gente para roubar uma “mão dada”, escondida da possibilidade de delações.
Geraldo, Rizzo, Polenta; Quiquino, Porfírio e Nininho Fantoni; Piorra, Nani, Ninão Fantoni, Bengala e Armandinho. Escrete em campo para enfrentar o Guarany, o alvinegro do bairro Lagoinha, outro grande reduto de imigrantes italianos.
Entre abraços e acenos de chapéus – já que os beijos em público não eram tão naturalmente aceitos naquela época –, palestrinos e palestrinas, como a minha saudosa amiga Osetta Pieri, celebraram a vitória por 3 a 0.
Pouco mais de 20 anos depois, em 1948, a data de 12 de Junho foi instituída no Brasil como o “Dia dos Namorados”. Estratégia de um publicitário paulista para aquecer o comércio. Foi pensada para colar no apelo midiático da fama de casamenteiro de Santo Antônio. Deu certo.
Levantamento histórico do Almanaque do Cruzeiro e da Cruzeiropédia mostra que, depois da vitória contra o Guarany, em 1927, o Palestra/Cruzeiro voltou a jogar no Dia dos Namorados em outras 10 oportunidades. Foram quatro derrotas, três empates e três vitórias.
Uma delas sobre o Atlético de Lourdes, por 3 a 2, em 2016, com Lucas Romero do nosso lado e Robinho, o estuprador, junto à sua Turma do Sapatênis.
Amanhã, 12 de junho de 2025, véspera do Dia de Santo Antônio – e também dedicado a celebrar a divindade de Exu –, o Cruzeiro voltará a campo. Ansiedade e esperança cercam a peleja contra o Vitória, no Barradão, pela 12º rodada do Brasileirão.
Ansiedade da Nação Azul por ficarmos longas duas semanas sem ver o Cabuloso pelear. Ainda mais depois da noite maravilhosa de amor que ele nos proporcionou contra o Palmeiras.
Esperança, pois nos basta vencer o time baiano para assumirmos a ponta da tabela do Campeonato Brasileiro pela primeira vez no ano.
Seja no setor de visitante do estádio soteropolitano, na luz baixa de um motel, sob o iluminar de velas em um jantar romântico ou mesmo na sala de TV de casa – com as crianças dormindo na casa da sogra. Não importa, onde, enamorados, estaremos a torcer. Que venha a liderança para coroar esse eterno namoro do Palestra/Cruzeiro com a sua apaixonada torcida.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.